Instituto Poiésis

Cresci ouvindo do mundo que “o céu é o limite”. Talvez isso dissesse pra mim que tudo abaixo do céu seria possível. O céu como um lugar que não se sabe, não se conhece, não se prevê. Mas, onde começa e onde acaba o céu? A partir desse “paralelismo semântico” me ponho a pensar sobre a potência do limite. Não. Este não é um texto sobre aprisionar, mas sobre o limite. Meu foco é sobre aquilo que circunscreve: a linha que diz o que é dentro e o que é fora pela sua simples existência. (Para os gestalt-terapeutas: fronteira de contato)

O mundo neoliberal tem nos ensinado sobre romper, consumir, transcender, como condições infinitas, que versam sobre nossa “alta performance”. O melhor, o primeiro, o preferido e seguindo… quando falamos deste lugar, “a alta” sempre pode ser mais alta. Mas quando acaba? Quando descansa? 

Quanto mais incorporamos este funcionamento empresarial na própria vida (e sobre a vida dos outros), mais viva é a sensação de “ainda dá”, “você consegue”. O quanto inibimos o contato com nossos limites quando encaramos este movimento como normal? 

Falar em limite é dialogar intimamente com nossa potência e criatividade, embora, tenhamos aprendido que potência e criatividade nos deixe sem limites. Quando circunscrevo o limite, dou bordas ao vazio, componho, falo intimamente de mim (consciente ou não deste movimento).

Pensar sobre os limites não é sobre o que posso ou não fazer, mas é sobre o que posso fazer com o que tenho. É sobre lembrar da tia do colégio que dizia: pinte dentro da linha e de repente pintar fora da linha parecia ser mais interessante justamente pela existência da linha, embora a tia percebesse este movimento como inabilidade ou transgressão. E o que caraterizaria a inabilidade ou a transgressão? A linha, o limite, a borda. 

E onde está o limite quando não há a linha a ser atravessada? Nas linhas que compusemos sobre nós: nossas dores, nossas crenças, o que sabemos de nós. Ficar com o vazio de não ter borda promove o reconhecimento destes limites, o encontro com nosso ponto-zero. 

Dialogar com o limite não é sobre não poder atravessá-lo, é sobre saber que ele existe, justamente para ouvir o que ele pode dizer sobre mim. Entendendendo que quando dou limite é quando abro um espaço potencial para criar (dentro ou fora). É quando faço as pazes com minha história, recobro meus suportes, que consigo inscrever- me conscientemente no mundo, como sujeito finito: limitado. É porque somos finitos, reconhecendo nosso limite (ser mortal), que a vida se torna uma travessia potencialmente criativa.

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